domingo, 5 de outubro de 2014

Domingo à tarde visto por vários ângulos.




Um dos aspetos que senti quando deixei de trabalhar por conta de outrém foi o de deixar de ter o síndrome de Domingo à tarde. Aquela sensação de angústia silenciosa pela segunda feira estar a chegar. Isso não existe, o que é uma vantagem, a não se que não gostemos de nós próprios.

No entanto a noção de Domingo é mais difusa: podemos estar a meio de um trabalho a qualquer momento, e termos que responder a uma solicitação.

Neste Porto onde vivo, (para ser preciso, no concelho de Matosinhos) os Domingos de Outubro, que começam a ser cinzentos trazem o conforto da casa e dos momentos familiares. Diferente dos Domingos dos "anos 20" onde a esta hora provavelmente ainda estaria no 2ºsono. O meu herói de 1.02mts e a recuperação já não permitem "aterrar" depois de tomado o sacramental Gurosan.

Um Domingo atualmente tem muitas horas: as primeiras da manhã quando estamos connosco próprios e tudo está a dormir à nossa volta; a hora do almoço e pós almoço, de uma lentidão extraordinária e em que os batimentos descem para um nível de subsistência; o final de tarde onde se prepara a semana mentalmente, com a perfeita noção de que tudo pode mudar num minuto.

Deixei de gostar tanto de sextas-feiras: já não sinto o frenesim de deixar de "aturar" os outros, pois, mais uma vez, estaria mal se não gostasse de trabalhar com o meu chefe.

Gostava dos Domingos na aldeia: todos se reuniam à hora do almoço que se prolongava até o sol desaparecer. Para muitos o único dia de descanso, para outros, a tarde ainda representava a ida à quinta para dar de comida aos animais e regar os campos. Adorava os relatos de futebol, num tempo onde a rádio era raínha. Agora tudo é fácil, ao alcance de uns cliques, mas ainda sinto o rádio a relatar os lances de perigo, pelas serras perto de Castro Daire, em alturas onde o tempo não valia o que vale hoje, mas sim muito mais.

Se alguém ler este texto, desejo um bom domingo: acalorado, friorento, solarengo, cinzento, no litoral, no interior, em Portugal, no mundo, sozinho ou acompanhado. O Domingo reflete o nosso estado de espírito mais do que todos os outros dias da semana.